OPERA HAUS
AUTOR: CARINA RABELOCONTATO: operahaus@hotmail.com

As Divas nos Seculos XVIII e XIX
Os compositores de opera costumavam escrever para as vozes que iriam interpretar sua musica. Durante o seculo XVII, era principalmente o talento artistico de um determinado castrato que os inspirava. Mas no inicio do seculo XIX, as estrelas femininas tornaram-se mais famosas. A primeira foi provavelmente Guiditta Pasta (1798-1865), para quem Bellini escreveu os papeis de Norma e La Sonnambula. A qualidade desta cantora assentava na combinação da magnifica flexibilidade e emocao da sua voz de soprano com sua extraordinaria presenca cenica e dominio da representacao.
Outro extraordinario talento foi Maria Malibran (1808-1836), filha do famoso tenor Manuel Garcia. Na sua vida tragicamente curta (morreu de uma queda de cavalo), Malibran cantou e fez mais tournees do que a maior parte das profissionais com o dobro da sua idade. Sua voz, seu desempenho cenico impetuoso e sobretudo sua musicalidade colocaram durante dez anos o publico de todo o mundo aos seus pes.
Todavia, a mais famosa de todas foi Jenny Lind (1820-1887), assim como Malibran, aluna de Garcia. Teve seu primeiro sucesso em sua terra natal, Estocolmo, ganhando fama internacional, apos uma brilhante temporada no Her Majesty Theather de Londres. Sua imagem simples e modesta foi em grande parte responsavel pelo publico que conseguia atrair. Pouco depois aceitou o convite de Phineas Barnum para uma tournee nos EUA. Jenny Lind destacou-se principalmente em recitais: cancoes como The Last Rose of Summer eram os bastioes da sua arte. A sua voz não era especialmente dramatica, mas cuidadosamente cultivada (como sua personalidade), de uma inocencia e frescura divinais.
Mas Adelina Patti (1843-1919) foi talvez o arquetipo da diva, com uma carreira que durou meio seculo. O seu papel mais famoso foi de Rosina, no Barbeiro de Sevilha: o proprio Rossini adorava Patti neste papel. Ja com mais de setenta anos e uma longa carreira operistica atras de si, Patti ainda conseguia arrancar lagrimas do publico quando cantava Comin thro the Rye ou Home, Sweet Home. Naturalmente, o proprio publico cria os mitos que ele proprio venera. E impossivel julgar a distancia a qualidade destas grandes vozes; mas a inspiração e o exemplo que deixaram as geracoes seguintes tem mantido vivos os ensinamentos, a devocao e a personalidade de todas elas, conservando viva a ideia de uma idade de ouro do canto.
A Revolucao e a Grande Opera
Durante a primeira metade do seculo XIX, Paris era por excelencia a cidade da opera, embora, como já tantas vezes acontecera na historia da musica, os melhores compositores viessem do estrangeiro. Considerando a grande contribuicao que a Franca, no seculo XVI, dera a musica italiana, parece justo que os italianos retribuissem este favor, ajudando na criacao da grand opera francesa.
A Revolucao Francesa
Os acontecimentos de 14 de Julho de 1789, com a consequente instalacao do terror, puseram fim aos espetaculos musicais palacianos. No lugar das elegantes reunioes de cantata solo, os inflamados coros unissonos a liberdade. Os espetaculos de opera foram substituidos por festivais ao ar livre, com enormes corais e orquestras que cantavam os feitos heroicos da nova Franca.
De inicio, a religiao não foi desencorajada. A Queda da Bastilha foi comemorada com um Te Deum, argumentando-se que Deus, tendo criado a classe trabalhadora, e Jesus, nascido no seio dela, deviam ser socialmente aceitos. Pouco depois, as igrejas foram fechadas, os padres presos e a multidao convidada a ouvir o Hino da Liberdade de Gossec, a Marselhesa de Rouget e a Cancao Nacional de Mehul, para tres coros e tres orquestras, com solistas e um pequeno conjunto de instrumentos musicais dispostos separadamente nos Invalides. Já surgiram duvidas acerca da imagem de Deus acima das classes e, em 1794, Roberspierre instruia o povo frances no culto não de Deus, mas do Ente Supremo. Um grande estimulo a musica veio com a fundacao, em 1795, do Conservatorio de Paris, que proporcionou eduacao musical a todos os jovens musicos talentosos. Seus famosos concertos foram inaugurados em 1828, com um ciclo de sinfonias de Beethoven.
Em 1801, tornando-se primeiro-consul, Napoleao resstabelecu a Igreja, trouxe de volta seus padres e apoiou a musica religiosa de grandiosidade classica. Para dirigir esta instituicao musical, Napoleao trouxe de Napoles Giovanni Paisiello (1740-1816), o famoso compositor da opera O Barbeiro de Sevilha (1782, estreada em S. Petersburgo), para desempenhar as funcoes de diretor musical de sua capela particular. Quando, em 1804, Napoleao foi coroado imperador em Notredame, Paisiello compos a musica; um Te Deum e a Missa da Coroacao, assim como outras composicoes são de Jean-Fracois, substituto de Paisiello e principal professor de composicao de Berlioz.
Napoleao queria para sua Franca uma musica convencional, bastante melodiosa e pomposa. Isto eh, queria uma musica italiana, e por isso mandou trazer Paisiello. Ja tinha consigo Luigi Cherubini (1760-1842), que estava em Paris desde 1788, e que apresentara, em 1797, sua melhor opera, Medeia, uma tipica peca de horror no periodo, embora perfeitamente classica no estilo. Cherubini especializou-se no novo e convencional Classicismo Italiano, orientado para a tradicao francesa, como se pode ouvir no seu Requiem em Do Menor (1816) e na sua grandiosa Missa em Ré Menor (1811). Sua opera francesa Les Deux Journees (Os Dois Dias) tem muito do estilo de Beethoven, que foi claramente influenciado pelo estilo heroico frances e que era grande admirador de Cherubini.
Em 1803, um ano antes da Coroacao de Napoleao, outro compositor italiano se fixara em Paris: gasparo Spontini (1774-1851). Embora tenha vindo de uma familia de camponeses pobres, seu talento justificava que recebesse licoes de musica e suas primeiras licoes possibilitaram-lhe um lugar num conservatorio em Napoles. Neste periodo, sua musica coral sacra agradou ao diretor de uma opera romana, que lhe propos um contrato. Mas pouco depois partiu rumo ao sul, para a Sicilia, e, em 1803, foi para a Franca. Em Paris, viu as ultimas operas francesas de Gluck e decidiu entao procurar imitar seu estilo majestoso.
Uma nova opera comica francesa que surge com Spontini levou o escritor Etienne de Jouy a oferecer-lhe seu libreto La Vestale, que fora recusado por Cherubini e outros. Spontini o compos, e gracas a intervencao pessoal da Imperatriz Josefina, que o nomeou seu compositor particular, a Vestal foi apresentada na Opera de Paris, em dezembro de 1807, sendo imediantamente reconhecida em toda a Europa como uma verdadeira obra-prima. As cenas de pompa militar acompanhadas por musica heroica atraiam os hoemns; o drama humano da paixao proibida, elaborado em majestoso estilo classico, com cantos ardentes e rico acompanhamento orquestral, atraia as mulheres. Chegara a Grand Opera Francesa. As ultimas operas heroicas de Spontini â Fernando Cortez (1809) â politicamente motivada pela ambicao de Napoleao - e Olimpia (1819), tiveram menor exito e ele e visto com antipatia tanto em Paris como em Berlim, onde tambem trabalhou. A Vestal ainda consegue se impor no palco, embora não possamos compara-la a â Norma - de Bellini, uma obra posterior com uma historia muito semelhante.
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