OPERA HAUS





AUTOR: CARINA RABELO

CONTATO: operahaus@hotmail.com

As Divas nos Seculos XVIII e XIX

Os compositores de opera costumavam escrever para as vozes que iriam interpretar sua musica. Durante o seculo XVII, era principalmente o talento artistico de um determinado castrato que os inspirava. Mas no inicio do seculo XIX, as estrelas femininas tornaram-se mais famosas. A primeira foi provavelmente Guiditta Pasta (1798-1865), para quem Bellini escreveu os papeis de Norma e La Sonnambula. A qualidade desta cantora assentava na combinação da magnifica flexibilidade e emocao da sua voz de soprano com sua extraordinaria presenca cenica e dominio da representacao.

Outro extraordinario talento foi Maria Malibran (1808-1836), filha do famoso tenor Manuel Garcia. Na sua vida tragicamente curta (morreu de uma queda de cavalo), Malibran cantou e fez mais tournees do que a maior parte das profissionais com o dobro da sua idade. Sua voz, seu desempenho cenico impetuoso e sobretudo sua musicalidade colocaram durante dez anos o publico de todo o mundo aos seus pes.

Todavia, a mais famosa de todas foi Jenny Lind (1820-1887), assim como Malibran, aluna de Garcia. Teve seu primeiro sucesso em sua terra natal, Estocolmo, ganhando fama internacional, apos uma brilhante temporada no Her Majesty Theather de Londres. Sua imagem simples e modesta foi em grande parte responsavel pelo publico que conseguia atrair. Pouco depois aceitou o convite de Phineas Barnum para uma tournee nos EUA. Jenny Lind destacou-se principalmente em recitais: cancoes como The Last Rose of Summer eram os bastioes da sua arte. A sua voz não era especialmente dramatica, mas cuidadosamente cultivada (como sua personalidade), de uma inocencia e frescura divinais.

Mas Adelina Patti (1843-1919) foi talvez o arquetipo da diva, com uma carreira que durou meio seculo. O seu papel mais famoso foi de Rosina, no Barbeiro de Sevilha: o proprio Rossini adorava Patti neste papel. Ja com mais de setenta anos e uma longa carreira operistica atras de si, Patti ainda conseguia arrancar lagrimas do publico quando cantava Comin thro the Rye ou Home, Sweet Home. Naturalmente, o proprio publico cria os mitos que ele proprio venera. E impossivel julgar a distancia a qualidade destas grandes vozes; mas a inspiração e o exemplo que deixaram as geracoes seguintes tem mantido vivos os ensinamentos, a devocao e a personalidade de todas elas, conservando viva a ideia de uma idade de ouro do canto.

A Revolucao e a Grande Opera

Durante a primeira metade do seculo XIX, Paris era por excelencia a cidade da opera, embora, como já tantas vezes acontecera na historia da musica, os melhores compositores viessem do estrangeiro. Considerando a grande contribuicao que a Franca, no seculo XVI, dera a musica italiana, parece justo que os italianos retribuissem este favor, ajudando na criacao da grand opera francesa.

A Revolucao Francesa

Os acontecimentos de 14 de Julho de 1789, com a consequente instalacao do terror, puseram fim aos espetaculos musicais palacianos. No lugar das elegantes reunioes de cantata solo, os inflamados coros unissonos a liberdade. Os espetaculos de opera foram substituidos por festivais ao ar livre, com enormes corais e orquestras que cantavam os feitos heroicos da nova Franca.

De inicio, a religiao não foi desencorajada. A Queda da Bastilha foi comemorada com um Te Deum, argumentando-se que Deus, tendo criado a classe trabalhadora, e Jesus, nascido no seio dela, deviam ser socialmente aceitos. Pouco depois, as igrejas foram fechadas, os padres presos e a multidao convidada a ouvir o Hino da Liberdade de Gossec, a Marselhesa de Rouget e a Cancao Nacional de Mehul, para tres coros e tres orquestras, com solistas e um pequeno conjunto de instrumentos musicais dispostos separadamente nos Invalides. Já surgiram duvidas acerca da imagem de Deus acima das classes e, em 1794, Roberspierre instruia o povo frances no culto não de Deus, mas do Ente Supremo. Um grande estimulo a musica veio com a fundacao, em 1795, do Conservatorio de Paris, que proporcionou eduacao musical a todos os jovens musicos talentosos. Seus famosos concertos foram inaugurados em 1828, com um ciclo de sinfonias de Beethoven.

Em 1801, tornando-se primeiro-consul, Napoleao resstabelecu a Igreja, trouxe de volta seus padres e apoiou a musica religiosa de grandiosidade classica. Para dirigir esta instituicao musical, Napoleao trouxe de Napoles Giovanni Paisiello (1740-1816), o famoso compositor da opera O Barbeiro de Sevilha (1782, estreada em S. Petersburgo), para desempenhar as funcoes de diretor musical de sua capela particular. Quando, em 1804, Napoleao foi coroado imperador em Notredame, Paisiello compos a musica; um Te Deum e a Missa da Coroacao, assim como outras composicoes são de Jean-Fracois, substituto de Paisiello e principal professor de composicao de Berlioz.

Napoleao queria para sua Franca uma musica convencional, bastante melodiosa e pomposa. Isto eh, queria uma musica italiana, e por isso mandou trazer Paisiello. Ja tinha consigo Luigi Cherubini (1760-1842), que estava em Paris desde 1788, e que apresentara, em 1797, sua melhor opera, Medeia, uma tipica peca de horror no periodo, embora perfeitamente classica no estilo. Cherubini especializou-se no novo e convencional Classicismo Italiano, orientado para a tradicao francesa, como se pode ouvir no seu Requiem em Do Menor (1816) e na sua grandiosa Missa em Ré Menor (1811). Sua opera francesa Les Deux Journees (Os Dois Dias) tem muito do estilo de Beethoven, que foi claramente influenciado pelo estilo heroico frances e que era grande admirador de Cherubini.

Em 1803, um ano antes da Coroacao de Napoleao, outro compositor italiano se fixara em Paris: gasparo Spontini (1774-1851). Embora tenha vindo de uma familia de camponeses pobres, seu talento justificava que recebesse licoes de musica e suas primeiras licoes possibilitaram-lhe um lugar num conservatorio em Napoles. Neste periodo, sua musica coral sacra agradou ao diretor de uma opera romana, que lhe propos um contrato. Mas pouco depois partiu rumo ao sul, para a Sicilia, e, em 1803, foi para a Franca. Em Paris, viu as ultimas operas francesas de Gluck e decidiu entao procurar imitar seu estilo majestoso.

Uma nova opera comica francesa que surge com Spontini levou o escritor Etienne de Jouy a oferecer-lhe seu libreto La Vestale, que fora recusado por Cherubini e outros. Spontini o compos, e gracas a intervencao pessoal da Imperatriz Josefina, que o nomeou seu compositor particular, a Vestal foi apresentada na Opera de Paris, em dezembro de 1807, sendo imediantamente reconhecida em toda a Europa como uma verdadeira obra-prima. As cenas de pompa militar acompanhadas por musica heroica atraiam os hoemns; o drama humano da paixao proibida, elaborado em majestoso estilo classico, com cantos ardentes e rico acompanhamento orquestral, atraia as mulheres. Chegara a Grand Opera Francesa. As ultimas operas heroicas de Spontini – Fernando Cortez (1809) – politicamente motivada pela ambicao de Napoleao - e Olimpia (1819), tiveram menor exito e ele e visto com antipatia tanto em Paris como em Berlim, onde tambem trabalhou. A Vestal ainda consegue se impor no palco, embora não possamos compara-la a – Norma - de Bellini, uma obra posterior com uma historia muito semelhante.








[domingo, dezembro 31, 2006]






Orquestra de Camara de Viena em Sao Paulo

Surgida das cinzas da Segunda Guerra, a Orquestra de Camara de Viena ja foi regida ocasionalmente por Menuhim e dirigida por Paul Angerer e Philippe Entremont. O atual maestro eh o violinista japones Joju Hattori, de 35 anos. Dia 14 de Junho: Abertura da opera LA FINTA GIARDINIERA; apresentam o Concerto para Violino e Orquestra N.5, de Mozart; e a Serenata para Cordas, de Dvorak. Dia 15 de Junho: Sinfonia N.1 e Concerto para Violino N.4, de Mozart; Sinfonia de Camara em Do Menor, de Shostakovich; e TRES FILMSCORES, de Takemitsu. A estreia brasileira da MEDITACAO SOBRE O ANTIGO CORAL TCHECO 'ST WENCESLAUS' esta programada para o dia 15. Josef Suk, seu autor, eh pouquissimo tocado no Brasil. Local: Teatro Cultura Artistica - Rua Nestor Pestana, 196, Centro, Sao Paulo. Tel: (11) 3256-0223. Dias 14 e 15 de Junho. Ingressos de R$ 90,00 a R$ 170,00.

por * 12:00 PM

[sábado, dezembro 30, 2006]


Nos tempos medievais, o acompanhamento musical fazia parte de todas as peças teatrais e também era usado pelos trovadores como um arranjo para suas óperas pastoris, dentre as quais pode-se destacar "Le Jeu de Robin et de Marion", de Adam de la Halle. Mas a forma da ópera que se desenvolveu e se transformou em drama musical surgiu em Florença no final do Renascimento, devido aos esforços de um grupo de nobres florentinos conhecidos como a "Camerata". A primeira obra, entitulada "Dafne", de Peri e Rinuccini, foi composta em 1594. Caccini contribuiu também com alguns números musicais para essa obra, e no mesmo ano arranjou todo o libreto para uma partitura própria. O libreto de "Dafne" foi perdido e a primeira ópera de fato foi "Eurídice", escrita pelos mesmos compositores para as bodas de Henrique IV e Maria de Médicis, em 1600. O principio fundamental desta obra é que o desenrolar dramático e a interpretação tiveram o mesmo tratamento de importância. Com o surgimento da ópera, a música não ficou unicamente relegada a polifonia do contraponto da escola secular, e isso revela a imediata popularidade que obteve a nova forma. No fim do século XVII se estabeleceram diversos teatros de ópera em várias cidades da França e da Itália. Os centros de atividades no campo da ópera se concentraram em Viena e Hamburgo, sendo um dos teatros mais antigos da Alemanha o da cidade de Bayreuth, a pequena cidade que mais tarde seria famosa pela construção do teatro para as festividades dos dramas de Richard Wagner. Na Itália, três cidades contribuíram grandemente para o desenvolvimento da ópera. Roma aperfeiçoou os Coros, Nápoles o "Bel Canto" - a arte de cantar - e Veneza a parte instrumental.

por * 9:08 PM

[sábado, julho 31, 2004]

Considerado um dos maiores gênios da história da música clássica, Mozart era – acima de tudo – um jovem satírico. Zombava da política, do clero, da nobreza, da burguesia e do povo. Menino prodígio que, com quatro anos, compôs a sua primeira música; com sete, escreveu uma sinfonia completa; e com doze, uma ópera. Sua genialidade se expressava com muita naturalidade, mostrando a todos que o pequeno prodígio não realizava muito esforço para ser brilhante.

Nascido na cidade austríaca de Salzburgo, Mozart foi pupilo do seu pai – Leopold Mozart – que almejava transformar o filho num notável compositor de músicas religiosas, assim como Handel e Bach. Mas os cânticos da igreja não seduziam muito o jovem e o clero o irritava, principalmente o Arcebispo Colloredo, que o empregou por um tempo mas lhe concedeu um âmbito limitado para desenvolver a música sacra, não dando qualquer chance à ópera e mostrando má vontade quanto às viagens realizadas pelo compositor. Mas o gênio também era considerado um libertino, um conquistador, pois as mulheres não resistiam ao seu talento prodigioso mesclado com um comportamento humorístico e irônico. Mozart tinha plena consciência do seu brilhantismo, a ponto de nunca se importar com o que pensavam dele.

Leopold ensinou o filho a tocar violino e teclado, além da teoria musical, latim e outras disciplinas acadêmicas. Wolfgang viajou por toda a Europa com seu pai quando ainda bem pequeno. Visitaram Munique, Viena, França, Inglaterra, Países Baixos e Itália. Foi através de todas essas viagens que Wolfgang aprendeu a dominar os estilos italiano, francês e alemão na composição musical.Seus libretos mostram uma forte inclinação aos temas polêmicos. Questões controversas como adultério, relações de domínio e opressão e recortes de mundanidade eram frequentes nas suas óperas. Sua irreverência arrebatou muitos fãs, entre eles o Imperador Joseph I.

Apesar da paixão pela vida e pela música, Mozart não gozava de muita saúde. As noitadas de bebedeira aliadas a uma alimentação indisciplinada o levaram a desenvolver o Tifo, doença muito recorrente entre as classes mais baixas. A partir dos 30 anos, Mozart começou a viver na miséria, tendo muitas de suas obras boicotadas pelos seus inimigos da corte. Morreu aos 36 anos e foi enterrado numa vala comum, juntamente com mendigos e miseráveis. Apesar de ter sido bem reconhecido ainda em vida, foi após a sua morte que suas obras foram devidamente apreciadas e consagradas. No seu legado musical, ficam registradas excelentes óperas, sinfonias, concertos, libretos e uma enorme quantidade de músicas de câmara e música incidental. A capital da Áustria, Viena, não o elogiou até estar morto.


por * 2:45 PM

Le Nozze di Figaro

Ato I

A história começa com Fígaro e Suzana, empregados do Conde de Almaviva, nas dependências da casa que lhes servirão de quarto quando se casarem. Fígaro mede o espaço para colocação dos móveis. O lugar não é adequado segundo Suzana e Fígaro tenta enumerar as vantagens enquanto que ela lembra que o Conde a assedia o tempo todo. O Conde tem interesses em Suzana e pretende fazer o "direito do senhor", uma prática que lhe permitiria ter a primeira noite com a jovem e bela empregada. O velho Dr. Bartolo odeia Fígaro e Marcelina, governanta de Bartolo, deseja estragar seu casamento e tê-lo para si. Cherubino, um pajem adolescente e namorador, envolveu-se com Barbarina, filha do jardineiro Antonio e pede ajuda a Suzana para não ser demitido pela Condessa. Todos estes interesses acontecem simultaneamente, com os personagens se escondendo uns dos outros e sabendo dos envolvimentos de cada um. Em tudo isto, Fígaro tenta preservar seu casamento.

Ato II

Nos aposentos da Condessa de Almaviva, Suzana e a Condessa falam da infidelidade dos homens quando Fígaro propõe seu plano para "pegar" o Conde. Mandara uma carta avisando-o que a Condessa iria se encontrar com seu amante. Suzana marcara um encontro com o Conde e decidiu mandar Cherubino vestido de mulher. Ela e a Condessa estão vestindo Cherubino quando chega o Conde. Suzana e o rapaz escondem-se. O Conde desconfia e sai para buscar ferramentas para arrombar o armário onde imagina estar o amante da Condessa. Cherubino foge, o Conde retorna e encontra apenas Suzana escondida. Nesta confusão, Fígaro vem ao quarto saindo depois. Marcelina e Bartolo também chegam contando que Fígaro propusera casamento à governanta. O ato termina com esta nova confusão.

Ato III

O Conde cheio de dúvidas sobre tudo o que aconteceu, escuta de Suzana a promessa de encontrar-se com ele como vingança contra Fígaro. Ela, na verdade, seguindo o plano, combinara com a Condessa que esta iria no seu lugar. Marcelina, D. Bartolo e D. Curzio, encontram-se com Fígaro dispostos a obrigá-lo a casar com Marcelina a quem supostamente prometera casamento. Fígaro diz que não pode casar sem que seus pais autorizem e ele não os conhece. Descobre-se, por causa de um sinal de nascença, que Fígaro é filho de Marcelina e Bartolo que o perderam quando pequeno e o abraçam comovidos. Outra confusão, já que Suzana vê a cena e pensa que seu futuro marido a está traindo. Entre os preparativos para o casamento, Cherubino novamente vestido de mulher é descoberto pelo pai de Barbarina. Antes que seja expulso pelo Conde, Barbarina pede a ele que perdoe o rapaz e autorize seu casamento. Com a marcha nupcial casam-se Fígaro e Suzana. Durante a cerimônia, Suzana entrega um bilhete ao Conde marcando um encontro.

Ato IV

Nova confusão, com Suzana e a Condessa invertendo os papéis para cumprir a convite ao Conde. Sem saber, Figaro está disposto a vingar-se de Suzana, contando à Condessa (Suzana) que seu marido irá encontrar-se com a criada. Quando Fígaro descobre o disfarce de Suzana, finge pensar que ela é a Condessa e a corteja, o que acaba levando os dois a uma reconciliação. O Conde por sua vez, pensa que a Condessa (Suzana) o está traindo e procura acabar com Fígaro. No final, todos os equívocos se disfazem e os personagens são felizes para sempre (para sempre?).



Die Zauberflöte

Ato I

Uma planície selvagem. O garboso príncipe Tamino entra correndo, perseguido por uma enorme serpente. Assustado e exausto, ele desmaia e, quando o monstro está prestes a atacá-lo, surgem as três Damas da Rainha da Noite e matam a serpente com suas lanças. Acham o jovem muito bonito, e cada uma delas quer ficar só, esperando que ele acorde, enquanto as outras duas vão avisar a rainha. Como não chegam a um acordo, resolvem ir as três juntas.

Tamino desperta, sem entender como a serpente jaz morta ao seu lado. Chega Papageno, o alegre passarinheiro da rainha, cujo corpo é coberto por uma penugem parecida com a dos pássaros que captura e leva para embelezar o palácio, recebendo em troca vinho e comida. Papageno é todo simplicidade e vive sonhando em encontrar a esposa ideal. Quando Tamino lhe diz que é um príncipe, filho de um soberano poderoso que reina sobre muitas terras, Papageno fica muito espantado, pois não sabia que existiam outros países além do seu. Tamino, então, lhe agradece por ter matado a serpente, e Papageno, orgulhoso de passar por herói, não conta a verdade.

As Três Damas retornam e castigam Papageno, dando-lhe água e pedras, em vez de vinho e bolos, e colocando um cadeado em sua boca para impedi-lo de falar mais mentiras. A seguir, mostram a Tamino o retrato da linda Pamina, a filha da Rainha da Noite. O príncipe apaixona-se imediatamente. Nesse instante, a rainha faz sua entrada triunfal. Ela conta a Tamino que Pamina foi aprisionada pelo malvado sacerdote Sarastro. Antes de desaparecer, a rainha promete ao príncipe que, se salvar sua filha, Pamina se casará com ele.

As Três Damas removem o cadeado da boca de Papageno, ordenando-lhe acompanhar Tamino em sua missão de resgate. Tamino recebe das mãos das damas uma flauta dourada, e Papageno, um carrilhão dotado de muitos sininhos. Ambos os instrumentos são mágicos e os protegerão na jornada. Seus guias serão três meninos.

A cena muda para uma sala ricamente mobiliada, onde três escravos comentam que Pamina ludibriou Monostatos, o servo mouro de Sarastro, e conseguiu fugir. Ouve-se a voz de Monostatos pedindo umas correntes para prender Pamina, que ele acaba de recapturar. Os escravos saem, e o mouro, que insiste em conquistar o amor da princesa, a traz para dentro. Nesse instante surge Papageno, que encara Monostatos. Cada um deles fica tão apavorado com o aspecto do outro que ambos fogem correndo. Mas Papageno volta, e diz a Pamina por que veio até ali, explicando os detalhes da missão de Tamino, enamorado por ela desde que viu seu retrato.

Tamino é conduzido até a entrada dos Templos da Razão, Sabedoria e Natureza pelos três meninos, que lhe recomendam manter firmeza e paciência. Tamino tenta entrar nos Templos da Razão e da Natureza, mas vozes internas ordenam que ele se afaste. Ao bater à porta do Templo da Sabedoria, surge o Orador do Templo, que conta ao jovem príncipe como a Rainha da Noite o enganou. Sarastro não é nenhum demônio malvado, mas o venerando soberano do Templo da Sabedoria. O Orador, impedido por um juramento, nada mais pode explicar, e vai embora. Misteriosas vozes informam a Tamino que Pamina está a salvo, e que logo ele terá a oportunidade de adquirir sabedoria.

Na esperança de que Pamina e Papageno o ouçam, Tamino toca a flauta mágica. Animais de todas as espécies, enfeitiçados pelo som da flauta, saem de suas tocas para ouvir a música. Quando Tamino pára de tocar, os animais vão embora. À distância, Papageno responde, tocando sua flauta de Pã. Tamino sai para procurar Papageno, mas vai para a direção contrária. Pamina e Papageno entram e são presos por Monostatos e seus sequazes, que vieram em seu encalço. Subitamente, Papageno lembra-se de seu carrilhão mágico e põe-se a tocá-lo. O efeito é surpreendente: o mouro e seus asseclas, enfeitiçados, não conseguem parar de dançar.

Em solene desfile, entram, agora, os sacerdotes, precedendo o carro de Sarastro, puxado por seis leões. Pamina, aterrorizada, implora o perdão do sacerdote por ter tentado escapar, explicando não mais suportar as investidas de Monostatos. Tamino volta à cena, encontrando Pamina pela primeira vez. Caem nos braços um do outro, docemente apaixonados, enquanto Monostatos espuma de raiva. Sarastro manda castigar o mouro com 77 chibatadas nas solas dos pés, e depois abençoa o jovem casal. A seguir, manda levar Papageno e Tamino para o interior do Templo da Sabedoria. Ambos devem ser preparados para as provas de purificação. O coro dos seguidores de Sarastro entoa um hino final, que fala dos elevados ideais que transformarão a terra num Paraíso.

Ato II

Um bosque sagrado. Os sacerdotes entram, em austera procissão, e Sarastro informa-lhes que Tamino deseja fazer parte da irmandade. Foram os deuses, explica ele, que determinaram que Tamino deveria procurar Pamina, e por isso mandou raptar a princesa, subtraindo-a à guarda da mãe. Dois sacerdotes são escolhidos para instruir Tamino e Papageno sobre o ritual que os espera. Em seguida, todos elevam uma oração aos deuses Ísis e Osíris.

Cai a noite sobre o pátio do templo, para onde os Dois Sacerdotes trazem Tamino e Papageno, que morre de medo do escuro. Os sacerdotes perguntam aos dois se estão preparados para enfrentar as provas de iniciação. A resposta é afirmativa, embora Papageno não pareça tão convincente quanto Tamino. Eles aceitam, então, um voto de silêncio, que Papageno custará a manter. Após a saída dos sacerdotes, surgem as Três Damas, instruídas a fazer com que os dois companheiros voltem a obedecer à Rainha da Noite; vozes do Templo, entretanto, ameaçam as Damas com o fogo do inferno, e elas fogem muito assustadas, sem nada conseguir.

Num jardim, Pamina dorme. Monostatos, ao vê-la, executa uma dança lúbrica ao seu redor, enquanto afirma que ninguém o ama por causa da cor de sua pele. Quando tenta beijar Pamina, ouve-se um trovão e surge a Rainha da Noite, furiosa, que ordena rispidamente ao mouro que se afaste. Pamina acorda, sua mãe diz que foi traída e dá à filha um punhal, instruindo-a a matar Sarastro e trazer para ela o ornato do Círculo Solar das Sete Dobras, que o Grão-Sacerdote usa no peito. Quando a Rainha desaparece, Pamina diz a si própria que não pode matar Sarastro. Num salto, Monostatos arranca o punhal de Pamina e tenta chantageá-la: se não aceitar seu amor, o mouro a denunciará como assassina. A chegada de Sarastro põe o mouro a correr. Pamina pede piedade para sua mãe, e o Sacerdote a acalma, dizendo que, dentro das sagradas paredes do Templo, não existe lugar para a vingança.

Na cena seguinte, os Dois Sacerdotes conduzem Papageno e Tamino para um recinto do Templo. Ignorando os votos de silêncio, apesar dos sinais reprovadores de Tamino, Papageno fala em voz alta o tempo todo. Quando ele pede algo para beber, entra uma mulher muito velha, trazendo-lhe um copo de água. Na animada conversa que se segue, a velhota diz que tem apenas dezoito anos e é a namorada que Papageno sempre procurou. Antes que ela possa dizer seu nome, ouve-se um trovão, e a velha foge. Surgem os três meninos, trazendo a flauta e o carrilhão mágicos, e, para grande alegria de Papageno, uma mesa coberta de iguarias e bebidas. Enquanto o passarinheiro mergulha na comida, Tamino toca a flauta, atraindo Pamina, feliz por reencontrar seu amado. Mas Tamino, mantendo o voto de silêncio, não lhe dirige a palavra, e a moça parte agoniada, acreditando que ele não mais a ama. O trombone soa três vezes. É o sinal de que as provas de Papageno e Tamino vão começar.

Na cripta da pirâmide, os sacerdotes agradecem a Ísis e a Osíris por considerar Tamino digno de sua fraternidade. Antes do início das provas de Tamino, Sarastro traz a triste Pamina para despedir-se dele, e todos partem em seguida. Papageno agora é testado, sendo cercado pelo fogo. Após observar sua reação, o Orador do Templo lhe diz que, infelizmente, ele não foi aceito entre os iniciados. Aliviado, Papageno comenta que o que ele mais gostaria agora seria um bom copo de vinho. Após ter seu desejo atendido, ele volta a sonhar com uma boa e afetuosa esposinha. É quando aparece novamente a velhota. Papageno deve escolher entre tornar-se seu noivo ou passar o resto da vida na prisão, a pão e água. Sem opção, Papageno concorda em casar-se com ela, e a velha transforma-se, num passe de mágica, numa lindíssima jovem chamada... Papagena! Mas a alegria de Papageno dura pouco. Os sacerdotes expulsam-na, pois o passarinheiro ainda não está pronto para ela.

Num pequeno jardim, enquanto esperam o amanhecer, os três meninos deparam-se com Pamina desesperada, preparando-se para se suicidar com o punhal que a mãe lhe dera. Reconfortando-a, os meninos fazem-na desistir desse ato impensado, assegurando-lhe que Tamino a ama profundamente. Enquanto isso, Tamino, descalço, espera que dois guardas de armadura o preparem para as provas de purificação do fogo e da água. Ouve-se a voz de Pamina: ela vem acompanhá-lo nas provas. O voto de silêncio pode ser agora rompido, e os dois manifestam seu amor. Abraçado a Tamina, o príncipe toca a flauta mágica para afastar a angústia e o sofrimento, e os dois, lado a lado, galhardamente, superam ambas as provas.

Nesse meio tempo, o pobre Papageno anseia por Papagena. Vendo desaparecer sua última chance de felicidade, pensa em enforcar-se. Mas os três meninos, vigilantes, sugerem que ele use seu mágico carrilhão para atrair sua amada. O estratagema funciona e, finalmente, Papageno poderá ser feliz ao lado da esposa pela qual esperou por toda a vida.

A Rainha da Noite, acompanhada das Três Damas e de Monostatos, prepara-se para tentar um último ataque contra o Templo, mas intensos raios e trovões os derrotam definitivamente. O sábio e bondoso Sarastro saúda a vitória da luz contra as trevas. O Bem venceu o Mal, e a ópera termina com um coro de sacerdotes agradecendo aos deuses.



Considerações

Fígaro obteve um sucesso modesto em Viena (demasiado inovadora e complicada para os ignorantes musicais que se julgavam a nata dos públicos), mas em Praga, capital da Boêmia – o país mais musical da Europa – obteve um grande êxito, não havendo baile ou concerto sem melodias de Fígaro. Em consequência, foi encomendada a Mozart uma nova ópera pela Companhia Italiana de Praga. Mozart escolheu a velha lenda esponhola de Don Juan, bem ao agrado do público.

Don Giovanni, supostamente uma ópera espiritual emocionante, embora com laivos de jovialidade, ultrapassou a intriga e o realismo social de Fígaro. Don Giovanni propunha um drama dinâmico e super-heróico de destino e heroísmo, muito mais intenso do que qualquer ópera cômica ou séria existente. Para o romântico do século XIX, Don Giovanni foi a ópera das óperas. O libretista Lorenzo da Ponte, autor de Don Giovanni, escreveu também um outro libreto para o Compositor – Cosí Fan Tutte – a história de uma aposta sobre a fidelidade das moças aos seus namorados; o drama é irônico e doloroso, a música é a mais sutil e amarga de Mozart.

Finalmente, Mozart escreveu a ópera alemã pela qual ansiava. Não era uma história grandiosa e séria, mas uma ruidosa comédia – Die Zauberflöte – A Flauta Mágica, que conseguiu transformar em algo do tipo sério que desejava, divertido, excitante e ao mesmo tempo muito idealista e religioso, na linha da maçonaria, a que ele aderira firmemente. É uma espécie de ópera-aventura, em parte sacra e em parte sobre as aventuras farsescas do cômico passarinheiro Papageno.


por * 2:00 PM